Brasil 1 x 7 Alemanha
Nelson Rodrigues conceituou:"complexo de vira-lata é a
inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto
do mundo".
Ano de 1950 foi a
melhor classificação do Brasil até aquele momento. Eu não estava nem sonhando
em nascer, não vivi a tristeza do “Maracanazo”. Muitos anos depois, em 1996
conheci Barbosa (Goleiro de 1950) pessoalmente, era um jantar do Rotary Club, e
nessa época, o goleiro aposentado morava na Cidade Ocian em Praia Grande – SP.
Tenho um autógrafo dele, conquistei após alguns momentos de conversa informal.Eu
estava realmente admirado de estar com o goleiro da seleção de 1950 frente à
frente.Guardo com muito carinho não só o pedaço de papel, mas a cena, o olhar
triste, a mão trêmula pegando a caneta e um sorriso sincero e breve cortando
toda a tristeza que presenciei: “Ao amigo Dalton, um grande abraço. Barbosa”.
Alguns anos depois assisti uma reportagem que Barbosa desabafava que qualquer
crime no Brasil, a punição máxima prevista em lei é de 30 anos, que a dele,
seria para toda a vida. E foi.
Uruguai e Itália já tinham dois títulos cada. Mesmo assim
mostramos que somos bons, os melhores. “A taça do mundo é nossa, com
brasileiro, não há quem possa!” Nesse embalo trouxemos o campeonato de 1958, em
seguida 1962 e por fim 1970. Jules Rimet é nossa, definitivamente, eu nem
precisaria comentar que restou uma réplica, a réplica que estava em cofre
enquanto que a original roubada ficava exposta numa vitrine(?) de vidros à
prova de balas unidos por madeira, a parte frágil e que foi logicamente
arrombada, as investigações concluíram que argentino a derreteu, comerciante de
ouro e proprietário da “Au Rimet”.
Não vivenciei, também, nossa seleção de 1982, eu era muito
pequeno, mas é sabido que ela tinha tudo para vencer aquela copa, só não
contava com a Itália no caminho.
1986, comecei a ter alguma memória daquela copa, algo bem lá
num cantinho das memórias de infância, muito mais do clima de copa, das
camisas, do verde e amarelo colorindo casas, carros, mas dos jogos em si, quase
nada lembro.
1990 efetivamente foi a primeira copa que torci, sofri com nossa
eliminação pela Argentina. Aí veio 1994, sofrida, mas conquistada!A seleção
que: “venceu mas não convenceu” aquele esquema tático do Parreira, uma
verdadeira chatice para nós brasileiros amantes do futebol arte, do verdadeiro show
de bola em campo.
Vamos direto à consagração de Felipão. Copa de 2002 não teve
pra ninguém, 100% de aproveitamento, 7 jogos, 7 vitórias, artilheiro. Vencemos
todas as partidas, inclusive na final contra a Alemanha e aquele goleiraço.
Felipão não era nada simpático, era polêmico, não convocou Romário, que estava
arrebentando ainda. Claro, ele deu o troco, pois na Copa das Confederações que
havia antecedido, Romário não queria jogar. Romário, obrigado por 1994, mas
2002: Bem feito Romário!
Circulou na Internet um e-mail, um “hoax” sobre a venda da copa de 1998. Gunther Schweitzer, que assina o e-mail existe, e realmente denunciou um suposto complô do Brasil para vender a Copa do Mundo de 1998. Bom, é mais ou menos isso, o na época funcionário da Volkswagen, recebeu o e-mail como todos nós costumamos receber, acreditou e repassou. Só que houve um descuido e saiu com sua assinatura automática. Ele era um dos primeiros na rede a repassá-lo com uma assinatura, e não de forma anônima. O mesmo e-mail circulou quando o Corinthians ganhou o mundial de 2012, no início da copa 2014 com a eliminação da Espanha e claro, e já está circulando com a nossa eliminação por 7 x 1. Alteram-se apenas os personagens principais. Menos Gunther, que hoje trabalha como personal trainer e dá aulas de vôlei em Mogi das Cruzes - SP. Ele nem imagina como apareceu junto à assinatura, que ele é do Jornalismo da Globo e se diverte com isso.
Voltamos na França, 1998. Nos demos o luxo de perder na fase
de grupos, mesmo assim classificamos em primeiro. Oitavas com goleada no Chile,
passando pela Dinamarca nas quartas e veio a semifinal. Como diz Galvão Bueno:
“Haja coração” foi nos pênaltis! Lembro bem do oba-oba que participei como
quase todos os brasileiros: é campeão! É campeão! É campeão! Claro que fomos
massacrados pela França, uma seleção perdida, derrotada antes mesmo do árbitro
tirar o cara ou coroa. Algo inexplicável. Eu achava aqueles 3 x 0 humilhantes.
Sabia de nada, inocente!
Brasil 1 X 7 Alemanha (O primeiro nome do placar é do dono
da casa, né?). Explicação para a goleada? Não tem! Mas vamos lá. Deixei 1998 e
o 7x1 juntos de forma proposital. O que têm em comum? A nossa mania de querer
ter heróis que na verdade não existem. Não os temos e não devemos tentar
inventá-los. Ronaldo e Neymar são profissionais, jogadores de futebol. Geniais?
Sem dúvida que são sim. Só que todos nós, e principalmente por influência da
mídia, dos patrocinadores, dos cartolas, da galera que lucra com o futebol,
colocamos uma enorme carga nas costas deles, muito maior do que podem carregar.
Nenhum dos dois carregava realmente a seleção nas costas, não deveriam, mas
pensávamos dessa forma. E fazemos com que os demais jogadores assim pensem. Os
grandes o fazem de caso pensado, para valorizar o seu “produto”, o seu jogador.
Somos bobos e entramos no esquema. Ao menor sinal de dificuldade, fazemos como
em Gothan City, acendemos o bat-holofote e chamamos nosso super-herói para nos
salvar. Tanto em 1998 como em 2014, ficamos sem nosso “Batman”, o fato de
Ronaldo ter entrado em 1998 e Neymar não ter jogado em 2014 reforça essa ideia
de que, tentamos criar nossos heróis, esquecemos que temos uma seleção com 23
jogadores (Alemanha sempre lembra bem de seus 23). A falta do Batman abala sim
o psicológico dos outros 22 jogadores e a culpa é que somos alienados e fazemos
exatamente o que a mídia quer. Vamos passar a valorizar também nossos outros
jogadores. Ronaldo não ganharia 1998 sozinho, nem Neymar 2014.Felipão, que
antes levava minha admiração parece estar “institucionalizado” a CBF mudou ele,
nem se compara com Felipão 2002. Tínhamos que fazer como quando quebraram Pelé
(1962), apareceu Amarildo e junto com Garrincha fizeram a vez, arrebentaram de
jogar bola. Isso sim, Brasil ganhou sem Pelé. Uma seleção venceu.Quem é
Amarildo? Quase ninguém conhecia. Alemanha não tem Messi, nem Neymar, nem
Robben, nem CR7, mas tem um esquema bem montado, com bons jogadores sim, e ao
que parece nenhum ao nível dos anteriormente citados. Vamos, nas próximas copas
passar a ter uma seleção mesmo, sólida, falando a mesma língua, mostrando
capacidade, porque essa fomos nós todos que perdemos nesse 7X1, nós que
colocamos Neymar acima de tudo e de todos quando não deveria.
Referências:
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