quinta-feira, 10 de julho de 2014

Como explicar o inexplicável 7x1?

Brasil 1 x 7 Alemanha

Nelson Rodrigues conceituou:"complexo de vira-lata é a inferioridade em que o brasileiro se coloca, voluntariamente, em face do resto do mundo".

Ano de 1950 foi a melhor classificação do Brasil até aquele momento. Eu não estava nem sonhando em nascer, não vivi a tristeza do “Maracanazo”. Muitos anos depois, em 1996 conheci Barbosa (Goleiro de 1950) pessoalmente, era um jantar do Rotary Club, e nessa época, o goleiro aposentado morava na Cidade Ocian em Praia Grande – SP. Tenho um autógrafo dele, conquistei após alguns momentos de conversa informal.Eu estava realmente admirado de estar com o goleiro da seleção de 1950 frente à frente.Guardo com muito carinho não só o pedaço de papel, mas a cena, o olhar triste, a mão trêmula pegando a caneta e um sorriso sincero e breve cortando toda a tristeza que presenciei: “Ao amigo Dalton, um grande abraço. Barbosa”. Alguns anos depois assisti uma reportagem que Barbosa desabafava que qualquer crime no Brasil, a punição máxima prevista em lei é de 30 anos, que a dele, seria para toda a vida. E foi.

Uruguai e Itália já tinham dois títulos cada. Mesmo assim mostramos que somos bons, os melhores. “A taça do mundo é nossa, com brasileiro, não há quem possa!” Nesse embalo trouxemos o campeonato de 1958, em seguida 1962 e por fim 1970. Jules Rimet é nossa, definitivamente, eu nem precisaria comentar que restou uma réplica, a réplica que estava em cofre enquanto que a original roubada ficava exposta numa vitrine(?) de vidros à prova de balas unidos por madeira, a parte frágil e que foi logicamente arrombada, as investigações concluíram que argentino a derreteu, comerciante de ouro e proprietário da “Au Rimet”.

Não vivenciei, também, nossa seleção de 1982, eu era muito pequeno, mas é sabido que ela tinha tudo para vencer aquela copa, só não contava com a Itália no caminho.

1986, comecei a ter alguma memória daquela copa, algo bem lá num cantinho das memórias de infância, muito mais do clima de copa, das camisas, do verde e amarelo colorindo casas, carros, mas dos jogos em si, quase nada lembro.

1990 efetivamente foi a primeira copa que torci, sofri com nossa eliminação pela Argentina. Aí veio 1994, sofrida, mas conquistada!A seleção que: “venceu mas não convenceu” aquele esquema tático do Parreira, uma verdadeira chatice para nós brasileiros amantes do futebol arte, do verdadeiro show de bola em campo.

Vamos direto à consagração de Felipão. Copa de 2002 não teve pra ninguém, 100% de aproveitamento, 7 jogos, 7 vitórias, artilheiro. Vencemos todas as partidas, inclusive na final contra a Alemanha e aquele goleiraço. Felipão não era nada simpático, era polêmico, não convocou Romário, que estava arrebentando ainda. Claro, ele deu o troco, pois na Copa das Confederações que havia antecedido, Romário não queria jogar. Romário, obrigado por 1994, mas 2002: Bem feito Romário!

Circulou na Internet um e-mail, um “hoax” sobre a venda da copa de 1998. Gunther Schweitzer, que assina o e-mail existe, e realmente denunciou um suposto complô do Brasil para vender a Copa do Mundo de 1998. Bom, é mais ou menos isso, o na época funcionário da Volkswagen, recebeu o e-mail como todos nós costumamos receber, acreditou e repassou. Só que houve um descuido e saiu com sua assinatura automática. Ele era um dos primeiros na rede a repassá-lo com uma assinatura, e não de forma anônima. O mesmo e-mail circulou quando o Corinthians ganhou o mundial de 2012, no início da copa 2014 com a eliminação da Espanha e claro, e já está circulando com a nossa eliminação por 7 x 1. Alteram-se apenas os personagens principais. Menos Gunther, que hoje trabalha como personal trainer e dá aulas de vôlei em Mogi das Cruzes - SP. Ele nem imagina como apareceu junto à assinatura, que ele é do Jornalismo da Globo e se diverte com isso.

Voltamos na França, 1998. Nos demos o luxo de perder na fase de grupos, mesmo assim classificamos em primeiro. Oitavas com goleada no Chile, passando pela Dinamarca nas quartas e veio a semifinal. Como diz Galvão Bueno: “Haja coração” foi nos pênaltis! Lembro bem do oba-oba que participei como quase todos os brasileiros: é campeão! É campeão! É campeão! Claro que fomos massacrados pela França, uma seleção perdida, derrotada antes mesmo do árbitro tirar o cara ou coroa. Algo inexplicável. Eu achava aqueles 3 x 0 humilhantes. Sabia de nada, inocente!

Brasil 1 X 7 Alemanha (O primeiro nome do placar é do dono da casa, né?). Explicação para a goleada? Não tem! Mas vamos lá. Deixei 1998 e o 7x1 juntos de forma proposital. O que têm em comum? A nossa mania de querer ter heróis que na verdade não existem. Não os temos e não devemos tentar inventá-los. Ronaldo e Neymar são profissionais, jogadores de futebol. Geniais? Sem dúvida que são sim. Só que todos nós, e principalmente por influência da mídia, dos patrocinadores, dos cartolas, da galera que lucra com o futebol, colocamos uma enorme carga nas costas deles, muito maior do que podem carregar. Nenhum dos dois carregava realmente a seleção nas costas, não deveriam, mas pensávamos dessa forma. E fazemos com que os demais jogadores assim pensem. Os grandes o fazem de caso pensado, para valorizar o seu “produto”, o seu jogador. Somos bobos e entramos no esquema. Ao menor sinal de dificuldade, fazemos como em Gothan City, acendemos o bat-holofote e chamamos nosso super-herói para nos salvar. Tanto em 1998 como em 2014, ficamos sem nosso “Batman”, o fato de Ronaldo ter entrado em 1998 e Neymar não ter jogado em 2014 reforça essa ideia de que, tentamos criar nossos heróis, esquecemos que temos uma seleção com 23 jogadores (Alemanha sempre lembra bem de seus 23). A falta do Batman abala sim o psicológico dos outros 22 jogadores e a culpa é que somos alienados e fazemos exatamente o que a mídia quer. Vamos passar a valorizar também nossos outros jogadores. Ronaldo não ganharia 1998 sozinho, nem Neymar 2014.Felipão, que antes levava minha admiração parece estar “institucionalizado” a CBF mudou ele, nem se compara com Felipão 2002. Tínhamos que fazer como quando quebraram Pelé (1962), apareceu Amarildo e junto com Garrincha fizeram a vez, arrebentaram de jogar bola. Isso sim, Brasil ganhou sem Pelé. Uma seleção venceu.Quem é Amarildo? Quase ninguém conhecia. Alemanha não tem Messi, nem Neymar, nem Robben, nem CR7, mas tem um esquema bem montado, com bons jogadores sim, e ao que parece nenhum ao nível dos anteriormente citados. Vamos, nas próximas copas passar a ter uma seleção mesmo, sólida, falando a mesma língua, mostrando capacidade, porque essa fomos nós todos que perdemos nesse 7X1, nós que colocamos Neymar acima de tudo e de todos quando não deveria.

Projeto 2018: que não fiquemos querendo inventar heróis, que tenhamos uma verdadeira seleção.

Referências:

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