quarta-feira, 4 de dezembro de 2013

PSDB x PT


Cresci num ambiente extremamente politizado, meu pai que havia sido policial civil e deixou a carreira para ser portuário, após ter passado em concurso para Conferente de Carga e Descarga do Porto de Santos. Viveu dentro de uma categoria que lutou muito pela manutenção dos direitos dos trabalhadores avulsos, desde seus colegas conferentes até os demais: consertadores, estivadores, vigias de bordo, etc.
Pelo Decreto 89312/84, em seu artigo 5º, esclarece que avulso é “quem presta serviços a diversas empresas, pertencendo ou não a sindicato, inclusive o estivador, conferente ou semelhado”
Eu era criança, mas lembro de sairmos nas ruas do município que morávamos unidos e bradando: “Diretas Já”. Não entendia do que se tratava, hoje sei, que mesmo incapaz de ter noção na época, posso dizer que participei delas. Voto Direto se tornou uma realidade, essa era também uma época de conquistas dos portuários, conquistas que, infelizmente, foram praticamente por água abaixo no sancionamento da lei 8630/1993, por Itamar Franco.
Nesse clima de más notícias, tendências políticas foram por mim sendo adquiridas, vivi os anos 90, minha adolescência e início da maioridade começando a acreditar naquele PSDB com suas lideranças: Covas, FHC e Serra, eu já votava e procurava argumentar com pessoas próximas sobre política. Ainda mais o fato de Covas ser de Santos, cidade que nasci, estava o clima de segurança para os portuários. Empolgação com a filosofia da Social Democracia era visível. Claro, a decepção com PSDB foi inevitável.
Sendo destino ou não, em 1997 ingressei no vestibular do Mackenzie, para o curso de Economia. Ali estava a Rua Dona Maria Antônia, um espaço com menos de 500m de extensão, que ficou conhecida em 1968 como dividindo dois mundos, duas ideologias. Revoluções mundiais se resumiam naquele espaço. Sim, de um lado a Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Sociais da USP, do outro o Instituto Presbiteriano Mackenzie. Dois gigantes da educação lutando sua Guerra Fria, ideológica, naquele microcosmo.  Mackenzie, que sabidamente, teve membros do CCC (Comando de Caça aos Comunistas).
Três anos que estive na famosa Maria Antonia, percebi que a direita ainda prevalecia no Mackenzie, porém a liberdade política, muito mais vigente, fez com que eu fizesse amigos dos mais diversos municípios da Grande São Paulo, interior e litoral, das mais diversas regiões de São Paulo, fosse Norte, Sul, Leste, Oeste e ainda Central. Alguns de famílias mais bem sucedidas das redondezas, como, por exemplo, Higienópolis e outros, de lugares mais precários. As tendências políticas se dividiam.
Leituras: Hobbes, Maquiavel, Voltaire, Keynes, Norberto Bobbio, Lakatos, Darcy Ribeiro, Viana Moog, Ludwig Von Mises, dentre outros. Até mesmo Gustavo Franco com o “Plano Real e seus Pressupostos”, palestras com Luis Nassif, dentre outros. Minha formação estava ficando cada vez mais sólida e certo de que, estava com convicções políticas bem embasadas.
Passei a ser sindicalizado, em meu primeiro emprego efetivado, estava sempre em contato com sindicalistas no ambiente de trabalho. Atraindo novos colegas a se filiarem. Simpatizei com o PT, uma vez que minha família foi atingida diretamente pela omissão do PSDB quando eleito e reeleitos nos anos 90 para o Governo Federal e Estadual. Funcionário do Banco Nossa Caixa em 2005, também me filiei a um sindicato de fortes lutas, Sindicato dos Bancários de Santos e Região. Continuei buscando novos colegas a se unirem em nossas lutas. Vivi uma transição em que o Governo do Estado, sim o PSDB que entregou estatais à iniciativa privada, desta vez o fez, menos traumático, imaginei, sendo incorporada a antiga Caixa Econômica do Estado de São Paulo, pelo Banco do Brasil.
Mais uma vez, decepção tomou conta. Comissões que havia nas vendas feitas pelos funcionários da Nossa Caixa, da noite para o dia, retiradas por completo. Eu que cheguei há R$ 3.500,00 média mensal antes da incorporação, vi minha renda cair pela metade, fui diagnosticado com um quadro depressivo, licença de 20 dias, 15 pela empresa, 5 pelo INSS, para meu espanto, Indeferido na perícia do INSS. Piorei ainda mais no meu quadro.
Minha mãe, que se encontra com mal de Parkinson, e que maior parte da vida, trabalhou com alto padrão de costura, não conseguiu sua aposentadoria por invalidez. Hoje não consegue passar uma linha na agulha.
Meu pai, em 1998 conseguiu sua aposentadoria, em torno do teto INSS, hoje recebe algo em torno de um terço do que deveria.
Esse INSS que paga aposentadorias a trabalhadores rurais, amparo social a idosos, com dinheiro da minha contribuição, da sua, dos meus pais, de todos nós. E quando realmente estamos necessitando amparo, não se faz merecer. Não sou contra a aposentadoria a estes casos que não contribuíram, mas sim que isso seja colocado no montante do orçamento da União. Isso é despesa e não dinheiro contribuído.
Após alguns dias sem assistir aos telejornais, hoje na maioria deles, foram noticiados o emprego de José Dirceu no Hotel Saint Peter, contratado por R$ 20.000,00 mensais. Um esquema envolvendo laranjas, escritório de advocacia e pessoas do Panamá. A Siemens, que admitiu suspeita de pagar propina a agentes públicos do Brasil, não será processada pelo Governo do Estado, pois o Tribunal de Justiça rejeitou recurso da Procuradoria Geral do Estado, exigindo que o seja feito a todas as empresas que agiram como cartel. Trens com mais de 40 anos, seriam reformados por empresas, e que foi averiguado pelo Ministério Público, sairia mais barato se fosse feito a compra de novos modelos.
Até onde iremos? Políticas de desenvolvimento de transporte público, trens, ônibus, VLT, duplicações de rodovias, sempre barrados no emaranhado de leis, nas questões ambientais.
Aumento nos combustíveis, o brasileiro, passará a gastar, em média mais R$ 5,00 para encher o tanque a partir de hoje, estranhamente, em outra reportagem, são colocados em média, 12 mil novos veículos em circulação todos os dias. Claro que não haverá políticas para incremento das ferrovias, a sabotagem da malha férrea iniciada nos anos de JK para que a indústria automobilística viesse ao Brasil, parece não ter terminado.
Esse é o clima de insatisfação que nos rodeia, o não acreditar nos dirigentes, na política, nas batalhas: MDB x ARENA, PSDB X PT, EUA x URSS, USP x Mackenzie, vivo minha eterna Guerra da Maria Antônia sem ídolos, sem mais conseguir acreditar no futuro e que somente quem está na base da pirâmide é o lado fraco, oprimido, passando um novo momento de feudalismo, não o que está nos livros de história, mas o feudalismo corporativo vivido por nós neste exato momento.
Ilha Comprida, 04 de dezembro de 2013.
Dalton Brasil Campos de Abreu, brasileiro, divorciado, contador


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